sábado, 9 de maio de 2009

Fidelidade



O Homem é um animal monogâmico? O que dizer sobre a fidelidade de um homem gay?

Essas duas perguntas e a verdadeira batalha que se instala numa mesa de bar quando o assunto é “fidelidade” – o que faz com que esse assunto raramente seja abordado em tal ambiente – falam por si só da complexidade do tema.

A história do mundo diz que não, pelo menos quando o assunto é instinto, já que desde a época das cavernas o homem é “medido” pela quantidade de suas conquistas sexuais e a qualidade da sua performance no ato.
A criação natural e social do homem ensina-o a não recusar sexo e a hipocritamente ser fiel ao seu amor.

Ora, se instintivamente o homem não é fiel, e socialmente ele é educado a conquistar e ter o maior número de pessoas na sua cama (cama = apenas simbologia), como será - este - fiel?

Qual a definição de fidelidade? Ser fiel é não transar com outras pessoas senão seu parceiro, ou não ir contra outros princípios (não sexuais) que baseiam a relação?

Há diferenças entre as duas coisas.

Um casal pode ser unido pela cumplicidade nos atos, interesse culturais que se completam, carinho mútuo, respeito às diferenças, muito tesão um no outro e identificação nas preferências em relação a sexo, apoio profissional, psicológico e moral, amor, paixão, amizade e enfim como um se sente ao estar na presença do outro, sendo “do” outro.

Um ato sexual, simplesmente físico, único e repentino muda tudo num relacionamento? Pelo fato de uma das partes ter usado seu corpo com outra pessoa para gozar mudou o que ele sente pelo companheiro, o que eles viveram juntos, o quanto são importantes pro outro, o quanto de tesão sente no outro, o carinho, a identificação enfim?

A monogamia foi adotada na cultura capitalista, cristã - especificamente nos países católicos e de “classe-média” dominante (lembrem-se dos ricos países árabes), pois seria menos provável que um homem conseguisse sustentar várias famílias e filhos com várias mulheres. Além, é claro, do sexo nos velhos tempos ser algo considerado íntimo, sagrado, puro, uma “consumação” do verdadeiro amor entre duas pessoas (homem e mulher) dispostas a criar uma família juntas, afinal, a maioria das religiões ainda prega que o sexo deve ser feito para procriação.

Hoje existe camisinha, métodos anticoncepcionais, mulheres trabalham, o fato de que no caso aqui abordado (Gays) há a total inexistência de filhos naturais e a intenção do sexo passa longe da perpetuação da espécie. Sendo assim qual o verdadeiro papel da fidelidade nos dias atuais?

A verdade é que as pessoas buscam um relacionamento porque não querem que suas vidas passem em vão, e o “casamento” é uma garantia de que ela deixará sua marca, em ao menos uma vida. Será lembrado, venerado.

Mas porque as pessoas sentem-se tão menos importantes, tão menos desejadas, tão menos valorizadas por seu companheiro quando sabem que este sente tesão – e deu vazão ao sentimento - por outra pessoa?

O problema pode estar, no caso dos homens, em outra parte de sua criação: ele deve ter as “rédias” das situações. Ele tem “obrigação” de não só fazer muito sexo, mas de ser melhor que os outros nesse “negócio”. Ter a melhor “desenvoltura”, o maior membro, e deixar o parceiro com a maior sensação de sacies já sentida em sua existência.
Tendo a fidelidade do parceiro, ele sente isso. Afinal, aquela pessoa trocou todos os outros por ele.

Quando falamos então de cidades pequenas, o problema está no fato do seu companheiro ter transado com alguém, ou na possibilidade de cruzar com o tal terceiro na praça aos domingos?

Um homem pode achar seu companheiro o melhor o mundo (existe?) e ainda sim desejar outros? Estamos falando de “fidelidade” ou “ego”?
As pessoas hipocritamente ignoram o fato de que um casal é formado por todos os outros corpos e amores que ambos deixaram pra trás, e por todas as pessoas que ambos desejaram e amaram e que o rejeitaram também.

Um homem pode realmente só desejar um único homem pelo resto da vida? Um homem pode controlar seu desejo por outros homens por um amor verdadeiro?

Parece paradoxo que solteiros fazem “sexo só por sexo”, daquele tipo que se faz em menos de uma hora com alguém que mal se sabe o nome, um solteiro pode transar com uma pessoa por tesão, por tédio, por fuga, por oportunidade, por desejo absurdo, por passatempo, por pressão dos amigos ou por motivos que ele não sabe o motivo, e nem precisa saber, enquanto para os “casados” o sexo fora da “dupla” tem sempre “algo mais”. Para alguém que tem um relacionamento e transa com algum terceiro nenhuma das razões do solteiro existe; Pensa-se logo que ele o faz porque está insatisfeito com o relacionamento, porque não deseja mais o parceiro, porque está querendo substituir o parceiro ou qualquer outra razão, sempre mais profunda.
Será?

Amar muda os instintos e a criação do homem? A cultura e desejo de conhecer outros corpos?

Afinal, relacionamento é exclusivamente uma questão física? Passa-se o resto da vida com melhor corpo que se encontra? E depois que se encontra o melhor corpo os outros todos se tornam indesejáveis?
Espera-se que todas as outras razões que fazem uma pessoa se sentir completo num relacionamento extinguam seus desejos sexuais incontroláveis por outros “machos”?

Chegando ao ponto crucial do pensamento aqui descrito, todas as perguntas acima são alternativas para a pergunta mais difícil e que – para alguns – tem a resposta mais dolorida: É possível ter um relacionamento em que haja amor e que faça com que alguém queira “pertencer” a apenas uma pessoa com reciprocidade nas duas coisas (amor e sexo)?

Este texto busca muito mais instigar o pensamento individual do que criar uma visão de certo ou errado ou dizer ao leitor como agir.

A única frase que explica com perfeição este conjunto de palavras é: “Não existe pessoa certa para ninguém. O que existe é pessoa certa para aquele momento”.
Sendo assim, curta-o (o momento).

Como uma indústria de cosmético diria para finalizar um de seus filmes de 30 segundos que nos convencem a comprar seus produtos: Bem-Viver-Bem!

E cada um que faça com a frase a construção que lhe convir.
Próximo tema: Família Religiosa.

RP

8 comentários:

  1. Para mim, a ideia de ter um relacionamento não é ter o ficar com o melhor corpo... é construir futuro juntos, não só familia, futuro no sentido de crecer juntos, fazerse bem o um ao outro. Em geral, eu acho q é certo isso do que não existe pessoa certa para ninguém e q td depende do momento, mas tb acho q os casais tem q procurar q o momento dure o maior tempo posivel, tentar q seja pra sempre, né? Fidelidade é dificil mesmo de conseguir pela razão do q cada quem tem um concepto diferente de o q é ser fiel, cada casaul tb tem seu propio concepto de fidelidade. Então eu acho q o problema de se acostar com outro fica mais dificil por a falta de respeto q isso implica q por causa de infidelidade o falta de amor pela outra pessoa. Dificil mesmo falar sobre o tema! Por isso meus parabéns! adoro o q vc escreve pela razão q é sempre bom, e importante, falar sobre os temas q ninguem gosta de falar assim porque sim.

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  2. Adorei o que vc escreveu Rafa... simples, objetivo e rico em conteúdo.. parabéns queridão!! Vc sempre arraza!!!

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  3. O texto é iscrito em portugues por mim que sou estrangeiro... a fidelidade é primariamente um compromisso consigo mesmo. Respeito dos proprios valores. A condicao gay libera tambem de muitas condicoes sociais, culturais tipicas da familia tradicional, reconehcidas por uma condicao burgues (pequena, media ou grande que seja). A monogomia nao faz sentido nem com homem nem com mulher. Agora existem outras formas para ser fieis. A atracao fisica para uma relacao de sexo pode ser satisfatoria e otima, mas repetida sem sentimento, nao leva longe. Se conseguir trepar sem sentimento e sem se apaixonar para o terceiro, tudo bem, é possivel trair. Mas se envolver sentimento e paixao para o terceiro voce compromete o namoro. E se isso acontecer significa que o "primeiro" amor, o mais solido, tanto solido nao era. Em todos os 2 casos é melhor experimentar de vez em vez fazendo o que sentimos/queremos/ sem preconceitos, convencoes sociais, culturais ou costrangimentos.

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  4. concordo plenamente, nunca acreditei em amor de verdade, portanto não acredito em Mr. Right.

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  5. Lindão, adorei o texto, acho que depois de algumas décadas no meio gay, tive uma relação de 9 anos com a mesma pessoa, acho que foi aquela coisa que o tempo da maldade ainda não tínhamos nascido! Infelimente ele faleceu em virtude de um acidente de carro em 2000. Digo que foram quase 10 anos onde nunca questionei fidelidade oupude pensar que algo pudesse atrapalhar nossa vidinha! Veio a dor e a perda irreparável, pois com ele algo neste mundo foi junto, justamente o conforto de estar com alguém realmente sem questionar fidelidade ou tesão com data de validade! Bom as vezes ser mais "ignorante" as facilidades do mundo nos faz mais feliz! Hoje em dia a procura em outras pessoas por algo que esta ausente na nossa própria consciência nos traz uma constante insatisfação com o próximo "ex" afeto, isso se torna ciclíco e viciante! Nunca seremos amados suficientemente e nem gozaremos os oceanos que saciam o corpo!

    Parabéns pelo blog!

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  6. Texto excepcional.
    parabéns.

    dando o meu pitaco, acredito que 'parar' de se sentir atraído por outros homens ninguém para. é aí que vem o que tu mencionaste, o amor e o gosto de 'pertencer' a outro homem, amorosamente e sexualmente, fala mais alto - fiel -, ou não - infiel.
    e outra: porque não considerar a possibilidade de cada um dos lados do casal mudar para satisfazer o desejo do outro? sentir-se 'completo' com outra pessoa requer tempo, paciência e, antes de tudo, fidelidade. Se tu não tem esse pré-requisitos, o amor que faz continuar, bem como o que faz mudar, não existe numa escala desejável, e quando isso acontece, ocorre a infidelidade.
    mas lembrar-se que achar alguém com o encaixe perfeito, logo de cara, pra mim é uma ideia não-verdadeira. minha tese é a de que esse encaixe vá existindo conforme o tempo da relação - e a maturidade dela.

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  7. Textos e comentários de altíssimo nível por aqui, seu Rafa. Bacana mesmo. Adicionando ao caldeirão: acho que fidelidade não é algo que se peça e muito menos que se cobre, mas algo que se dá a quem você ama (até mesmo sem ele saber). Ainda assim, fidelidade que importa mesmo é a emocional: estar presente sempre que preciso.

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  8. Oi coração, não sou gay, mas tá apoiadíssimo amor e sexo não devem ter barreiras.deixa o falso moralismo para os infelizes.
    Beijos da Lol@!

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