quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A responsabilidade é de quem?


Reconheço que sou meio controlador, mandão, em todos os sentidos.

No trabalho, nas relações com os amigos e até (e principalmente) no sexo. Saio logo assumindo o controle da situação.

Quando viajo com os amigos ou namorado, sempre sou eu quem toma a frente e organiza toda a viagem. Reservo os hotéis, as passagens, resolvo tudo da documentação necessária... tudo.

No trabalho, me controlo para não ser extremamente centralizador, pois tenho tendência a trazer para mim até as tarefas mais operacionais, se essas fazem parte de um projeto que julgo muito importante ou interessante.

Algumas vezes, quando algum projeto do qual tenho grande interesse no resultado está acontecendo em outra divisão do meu departamento, acabo opinando, participando, contribuindo ou até (em alguns casos) me intrometendo sem ser chamado mesmo.

Em projetos de responsabilidade compartilhada (que envolvem vários departamentos, por exemplo), quando o resultado não acontece, não é raro me ver abatido, me sentindo o único culpado pelo fracasso.

Desde que meus pais faliram, e toda a “mordomia” que o dinheiro podia me proporcionar na adolescência se foi, assumi as rédias da minha vida e saio feito um trator, passando por cima de qualquer “morrinho” que se ponha no meu caminho.

Nos relacionamentos que não deram certo, sempre me pergunto onde/se EU errei, mesmo que tenha sido traído ou sentido que não gostava mais o suficiente para continuar com a relação.

Trata-se de um senso para assumir responsabilidades absurdo.

Realmente sinto que eu sou o único responsável pela MINHA saúde, pelo MEU sucesso, pelas MINHAS conquistas, MEU corpo ou pelos MEUS erros.

Talvez por isso eu fique TÃO assustado em ver o mundo atual, onde as pessoas tentam de todas as maneiras transferir suas responsabilidades.

...

Dia desses um produto destinado para crianças, em garrafa de espumante (com rolha e tudo), sem álcool e com personagens da Disney foi atacado pelas pessoas como sendo um incentivo ao consumo de bebidas alcoólicas.

Desde criança vejo pais darem goles de cerveja para seus filhos pararem de encher o saco querendo aquilo que os pais estão bebendo. Vejo festas de família onde todos os adultos ficam “altos” no nível de álcool no sangue (e nas atitudes) rodeados de crianças, que entendem que aquilo é o bacana da vida adulta.


A responsabilidade pelos hábitos de consumo dos futuros adultos é de um produto que traz a criança o momento de comemoração, de estouro, que o brasileiro aprende que deve ter em todos os momentos importantes da sua vida?

E se este produto for consumido pelas crianças de uma família de pessoas que não bebem álcool, que fazem suas comemoração com “espumantes” sem álcool que têm tomado o mercado? Também estarão incentivando o consumo de bebidas alcoólicas?


Limito a responder a pergunta contando que outro dia vi o filho (8 anos) de um amigo, que bebe MUITO, pegar a caneca de cerveja do pai, encher de guaraná, beber tudo e ficar imitando o pai trançando as pernas, dançando (como ele costuma fazer).

Não havia o tal “champagne” para criança nessa casa.


Guaraná é um incentivo ao consumo de bebidas alcoólicas?

De quem é a responsabilidade?

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Ainda no mesmo tema, outro dia li uma reportagem sobre o ensino público fundamental no Brasil. Foi mais ou menos naquela época que um atirador entrou em uma escola na periferia do Rio De Janeiro.

Alguns pais alegavam que seus filhos estavam se marginalizando pois as escolas não transmitiam valores, que os professores eram omissos.

Até vi uma campanha publicitária de um grande colégio particular que o slogam era “Ensinamos valores”.

Na mesma reportagem, alguns pais diziam que as escolas públicas não tinham qualidade, que nem dever de casa seus filhos tinham.

Eu entrei na primeira série do ensino fundamental (público) sabendo ler e escrever algumas palavras, contar até mais de 100 e mais algumas coisinhas.

As brincadeiras que minha mãe fazia comigo eram educativas nesse sentido.


Quantas vezes será que esses pais da reportagem se dedicaram a ensinar alguma matéria a seus filhos?

O colégio PRECISA dar dever de CASA?

Se esses pais julgam tão importantes que seus filhos estudem em casa, porquê não fazem o papel de educadores em seus lares? Podem utilizar até os livros da escola.


ÓBVIO que eu reconheço o papel das escolas que eu estudei na minha formação de valores, no aprendizado e etc., mas como eu já disse no texto “be a dad”, minha consciência tem a voz do meu pai, não de algum professor.


De quem é a responsabilidade?

Dos professores? Do estado?


Qual a relação disso tudo com o tema do blog? TODAS.


Nos relacionamentos e no sexo (gay e nas cidades pequenas), também tenho visto essa tentativa desesperada de transferir responsabilidades.

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Outro dia um amigo disse: “Este ano no Carnaval, gostaria que aparecesse um cara bacana, que não estivesse na vibe de pegar todo mundo, que gostasse de mim, que quisesse ficar comigo todos os dias e me fizesse voltar namorando do carnaval.”

Perguntei como seria o comportamento dele no carnaval e ele respondeu: “Ah, se esse cara aparecer, entro na dele, se não... vou curtir, beber, beijar na boca todo mundo que aparecer”

Apenas ri!


De quem é a responsabilidade de fazer as coisas acontecerem?


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Um outro amigo, do interior, até meio inocente, me confidenciou que depois de 8 meses de namoro, fazendo sexo sem camisinha, descobriu que o namorado era soropositivo, sabia, e nunca se preocupou em contar a ele.

Por sorte ele não se contaminou, mas eles terminaram o relacionamento e o menino está até hoje traumatizado, tem uma BAITA dificuldade de confiar nas pessoas, de se envolver novamente.

Todas as pessoas que esse meu amigo contou essa história, demonizam o ex-namorado (inclusive eu). Como alguém pode fazer uma coisa dessas? Também acho que o cara (o ex-namorado) foi um idiota, sem escrúpulos, de uma maldade sem tamanho, mas meu pai me ensinou uma coisa muito triste (que quando tentei transmitir ao meu amigo, ele ficou bravo comigo): O MUNDO É MAU! SÓ VOCÊ VAI TE TRATAR COMO VOCÊ MERECE! NINGUÉM VAI SE PREOCUPAR COM VOCÊ NA MESMA INTENSIDADE QUE VOCÊ MESMO!


Quanto esse amigo se preocupou com ele mesmo?

De quem é a responsabilidade de cuidar de você mesmo?

De quem é a reponsabilidade de cuidar da sua própria saúde?

De quem é a reponsabilidade de cuidar da sua vida?


Para mim esse trauma é fácil de resolver: NUNCA MAIS FAZER SEXO SEM PRESERVATIVO!

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Continuando no assunto, vi um documentário sobre HIV no canal Futura, onde um homem gay disse que se contaminou com vírus através do namorado. Disse que quando descobriu ser soropositivo, correu contar ao companheiro que respondeu: “Eu também sou. Nunca toquei no assunto, pois como nunca usamos camisinha, eu achei que você também fosse”.

Triste, mas meio óbvio: “um não se preocupa, o outro também não. Pra que falar do assunto?”

E quantas vezes fui transar com alguém que acabei de conhecer e só usei preservativo pois EU EXIGI? Muitas.

Se não exigisse e me contaminasse, não me sentiria sequer no direito de “tirar satisfação” com o parceiro.


De quem é a responsabilidade?

O gay que vive nas cidades pequenas é mais inocente do que o gay que vive nos grandes centros e por isso está mais suscetível a ser “enganado”?


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Uma vez tive um namorado que quis que transássemos com um terceiro. Nenhum de nós havíamos feito aquilo antes. Topei... e gostei da situação (:P).

Nosso namoro acabou no mesmo dia, pois ele disse que sentiu que eu gostei demais do “terceiro”.


Oi?!? Não entendi! Não era essa a intenção???

Será que as pessoas não tem nem idéia das responsabilidades que elas assumem com suas decisões?

De quem é a responsabilidade? De quem é a responsabilidade?


RP