domingo, 23 de agosto de 2009

To be or not to be... a Boyfriend?


A mudança pra SmallerVille mexeu com várias bases da minha vida.
Longe da família, casa nova, gente nova, trabalho novo, longe dos amigos... vida nova.
Por vezes me sinto só, sinto falta da sensação de saber que tem mais alguém na casa, mesmo que eu esteja trancado no meu quarto.

Sinto falta de barulho, som.

Enquanto no trabalho a concentração nos desafios me toma, me abstém do mundo. Várias vezes só percebi que estava sozinho e ainda trabalhando quando olhei no relógio que já marcava 21h. Adoro isso!
No entanto, chegar em casa, cozinhar só pra mim (adoro cozinhar), sentar à mesa ou ver TV sozinho é bem chato.

Foi num dia entediante desses que conheci pela internet alguém que me faria cia.
Seriam algumas horas de sexo e só, ele tinha compromisso logo mais a noite. Isso me bastava para aquele final de tarde de sábado.

Nome bíblico, moreno, olhos verdes, barba por fazer, altura por volta dos 1,75 e cerca de uns 82 kg de músculos (muito músculo). Insaciável na cama, e muito safado. Perfeito para o objetivo do encontro.

Uma verdadeira disputa para ver quem desistia (ou gozava) antes se sucedeu num perfeito encontro de preferências. Braços, pernas, troncos, membros e línguas se entrelaçaram das mais variadas formas, até que a perda de controle mútua acabou com a sacanagem, quando percebemos que já era noite, e tarde da noite.
A química foi grande, e no primeiro encontro (que deveria ser o único) os minutos pós-coito foram de carinho e carícias ao som das respirações, ainda ofegantes.
O “silêncio” foi quebrado pelo toque do celular dele, com os amigos avisando que estavam chegando para pegá-lo. A princípio ele disse que atrasaria alguns minutos para chegar no ponto combinado, mas resolveu ficar... e o que era para ser um encontro de algumas horas, se tornou um encontro de um fim de semana inteiro.

Alguns fins de semana juntos vieram (e alguns dias de semana também). Ligações, emails, mensagens.
Tudo partindo dele, sempre. Afinal, meus planos de me manter solteiro mantinham-se.
Ainda me causa estranheza tanta empolgação em tão pouco tempo, os acontecimentos dos relacionamentos anteriores me travam, e palavras de “carinho” e “adoração” para alguém que se conhece a poucos dias me assustam.

Ele é intenso, dedicado, determinado.
Eu estou quieto, analítico, racional.

O tempo vem passando rápido e tenho me pegado pensando nele, sentindo falta do espaço da cama ocupado. Flagrei meu pensamento no supermercado em comprar algo para comer a dois (vinho, fondue, sorvete de Chocolate Belga...) e outras coisas que ele poderia gostar.
Ainda penso nas viagens que pretendo fazer a passeio com os amigos (ano novo, carnaval...), ainda penso nas pessoas que eu pretendo ter, ainda penso em organizar minha vida de vez e voltar a sair sem dar satisfações a ninguém.

Carência ou um começo de “bem-te-quero”? Não sei.
Fuga de relacionamentos? Sim.
Carência? Tenho.
Conveniência? Também.


Sinto que estou entrando para o grupo que compõe as estatísticas de gays que têm medo, não querem (racional) ou não acreditam em relacionamentos. Aqueles que querem alguém, mas as possibilidades da vida de solteiro e o sexo falam alto.

Egoismo? Sem vergonhice? Tendência? Natural?

Vou passar algumas semanas viajando a trabalho e não posso dizer que não penso em sair, em conhecer gente, em fazer sexo “multicultural”, mas é bem legal ter para quem voltar.

Por enquanto, disso tudo, as únicas coisas que viraram ações foram meus retornos às ligações, minhas mensagens, meus emails e minhas compras feitas para NÓS!
Mas o pensamento em curtir a vida de solteiro se faz presente.

Pensamento é tão feio quanto ação?

To be, or not to be a boyfriend? That's the question!

RP

domingo, 9 de agosto de 2009

Be a Dad!!!


Eu morava em uma cidade diferente dos meus pais. Trabalhava e Fazia faculdade fora. Passei por momentos bem difíceis e minha relação com meu pai já não ia bem porque eu me recusava a trabalhar na empresa dele e morar com eles.
Vim para casa do meu pai apenas para passar um fim de semana e escrevi um texto para um blog que eu tinha na época. Dissertei no Word, copiei para o blog, publiquei, limpei histórico do computador e continuei na internet. Houve uma queda de energia e eu fui dormir.
No outro dia, acordei cedo e voltei para minha casa. Meu pai acordou horas mais tarde e foi para o computador. Ao abrir o Word, o software recuperou o texto até a frase que dizia:

“Que fase difícil passei... 20 anos, fora de casa, longe da família, lutando por grana, me aceitando bissexual e tentando ser feliz”.

Meus pais enlouqueceram e me ligaram pedindo que voltasse imediatamente pra casa deles que precisávamos conversar. Ainda argumentei que já estava no trabalho quando meu pai respondeu que se eu não viesse ele iria me “pegar” dentro da empresa.
Nesse momento eu soube que eles haviam descoberto.
Cheguei na casa dos meus pais e os dois estavam sentados na sala de visitas, minha irmã estava trancada no quarto e os nenhum dos empregados estavam dentro de casa. Sentei no sofá, coloquei os pés sobre a mesa de vidro que havia a frente e meu pai perguntou: “Você é homossexual?”, com todas as letras.

Eu respondi: “Durante toda a vida que vivi até agora eu lutei para mudar algumas coisas em mim e não consegui. Hoje eu aprendi a lidar com essas coisas e agüento as ‘porradas’ que o mundo me dá por ser de determinada forma. Mas eu percebi que a minha luta era principalmente porque eu não sei se sou forte o suficiente para agüentar ver vocês tomarem as ‘porradas’ que vocês vão tomar agora que vocês sabem”.

Minha mãe saiu correndo chorando, meu pai chutou a mesa de vidro, que se espatifou, e começou a gritar.
Ele dizia que não me deixaria voltar para minha casa, que iria me curar, que eu iria pra igreja com eles. Começou a dizer que filho dele não ia “dar o cú” por aí, que eu não pensava neles, que eu estava os fazendo sofrer, que eu deveria enfrentar isso para fazer-los felizes, mesmo que isso me fizesse sofrer. Dizia que preferia que eu tivesse matado alguém, fosse um drogado ou bandido, pois com essas coisas eles saberiam lidar, mas com “viadagem” eles não sabiam o que fazer.
Minha mãe voltou à sala com a bíblia e começou a gritar partes que falavam sobre homossexualidade.
Meu pai chorava e me olhava com raiva. Dizia que eu era o maior desgosto da vida dele, que me salvava ou me matava, que isso era uma doença e outras coisas mais.
Tentei, obviamente sem sucesso, argumentar, protegido pelo fato de ter a minha casa e meu trabalho, mas meu pai começou a dizer que eu não sairia daquela casa, que não voltaria ao trabalho nem a faculdade, que a partir de agora viveria sob constante observação.
No mesmo minuto me levantei e disse que iria embora. Meu pai se pôs a frente da rampa de acesso que sobrepunha o jardim da casa, do portão a entrada principal, e disse: “você só sai daqui se passar por cima de mim”. Eu passei.
Com dois passos para trás e um impulso m direção ao muro da frente, derrubei meu pai no jardim. Bati um pé no muro e o outro na cerca elétrica e caí na calçada, já do lado de fora.
Enquanto o portão da garagem se abria com o alarme ecoando pelo bairro, eu corria pela rua, com meu pai correndo atrás de mim, chorando e gritando que só desistiria de me “curar” quando ele morresse.
Minha mãe, que nunca dirigiu, o alcançou com o carro e vieram atrás de mim. Eu fazia um ziqgue-zague entre as ruas do bairro, com os vizinhos todos olhando assustados para aquela família que mal se via, sempre trancada por traz dos muros no alto do bairro.
Meu pai dizia que eu morreria sozinho, que perderia meus amigos, que a família me excluiria, que eles seriam motivos de chacota, que eu me drogaria e morreria de AIDS.
Dizia que não teria emprego, viveria em becos, escondido, e que iria para o inferno viver a eternidade.
Muitas brigas se seguiram naquela noite, no meio da rua, no carro, em casa.
Todas as chaves e controles dos portões foram entregues aos seguranças e motoristas da casa, que teriam a missão de não me deixar sair mais, a menos que acompanhado dele.
Eu não poderia voltar a minha casa, ao meu trabalho, a minha vida, a menos que prometesse ser diferente. Prometesse “voltar a ser” heterossexual.
Prometi, e voltei para casa disposto a nunca mais falar com meu pai.
Dois dias depois, era meu aniversário, eles apareceram a minha porta. Achei que eles tivessem aceitado, e tivemos um dia ótimo, sem tocar no assunto.
Na hora de ir embora, eu estava a porta de casa quando minha mãe perguntou se eu ainda falava com “aquela gente” (meus amigos gays). Percebi que eles não haviam entendido nada e bati a porta na cara deles.
Ficamos muito tempo sem nos falarmos, mas aos poucos a reaproximação foi acontecendo. Tempos ainda mais difíceis.
Minha mãe sempre foi meu chão, minha base, meu ombro, meu apoio, o vento sob as minhas asas. No entanto, minha consciência tem a voz do meu pai. Ele sempre foi o exemplo, o julgamento, a força, a razão. Os músculos que me permitem voar.
Viver longe dele doía.
Voltas e voltas o mundo deu e eu voltei morar com eles, com o único e exclusivo objetivo de fazer com que meu pai visse que ele estava errado, que eu era um bom homem.
Tempos terríveis de convivência. Cutucões, piadinhas e indiretas constantes do café da manhã ao jantar.
Um ano depois eu cansei. Eu explodi. Eu falei tudo que devia - e o que não devia - e resolvi sair de casa.
Sai do trabalho disposto a não voltar para casa quando meu pai me ligou e pediu para que eu fosse pra casa. Tudo me dizia que eu seria IDIOTA se voltasse, mas eu fui.
Cheguei em casa, meu pai me abraçou chorando e disse que me amava, que não brigaríamos mais e que queria ser meu amigo.

Depois daquele dia meu pai nunca mais fez uma piadinha, e recriminou veementemente aqueles que o fizeram dentro de sua casa. Nunca mais me fez inquisições sobre onde eu iria ou com quem eu iria. Suas perguntam sobre minha vida pessoal se limitaram a “você está feliz?”.
Nossa relação começou a mudar. Meu pai nunca me pediu desculpas e ainda hoje sinto dificuldades em demonstrar amor e carinho a ele, pois lembro das coisas que ouvi. Muitos Natais e Festas de Ano-Novo se passaram me fazendo escolher entre estar com meu namorado ou minha família.
No entanto, minha consciência continua tendo a voz dele, ele continua sendo meu exemplo, minha força, minha razão, meus músculos.
Hoje falamos de trabalho, de dinheiro, de carros, de viagens, da minha sobrinha e de família.
Apoiamo-nos, nos admiramos, nos guiamos, e passamos natal e ano novo juntos, estando eu solteiro ou namorando.
Penso no meu pai e vejo o homem que me ensinou a andar de bicicleta sem rodinhas, tentando novamente, mesmo todo ralado dos tombos no asfalto e os protestos de minha mãe. Subir nas árvores mais altas, mesmo com o braço fraturado da última queda. Correr no fogo, mesmo com a cicatriz da última queimadura. Trabalhar duro, mesmo com um salário baixo. Fazer melhor, mesmo sendo elogiado por ter feito direito. Querer mais, mesmo tendo tudo. E erguer a cabeça, ter orgulho do que sou, mesmo sendo gay.
Meu pai me ensinou que ninguém é melhor do que eu, mas que eu também não sou melhor que ninguém. Mostrou que se faz tudo em nome da família, que casamento deve ser respeitado e deve ter “status” de namoro para sempre. Ensinou que só se ganha dinheiro vendendo IDEIAS, que o mundo é MAL, mas que viver é BOM DEMAIS!!!

Eu não admito viver em becos, não admito ser diminuído, não admito ser maltratado, não admito brincadeiras com meus sentimentos e minha saúde, e não admito ter que me esconder por conta de qualquer característica sexual minha.
Não fui criado para isso, não fui ensinado a permitir isso.

“Aprendi com a dor, nada mais é o amor que o encontro das águas”.

Minha força tem um nome, e é o nome do meu pai.

RP