É comum ver gays que saíram de cidades pequenas e foram viver sozinhos em cidades grandes. É a busca por melhores oportunidades de trabalho, acesso a cultura, novos mundos e principalmente liberdade de ser e se expressar.
Longe de casa as necessidades de atenção, apoio, identificação e compreensão (que se enquadram numa parte da necessidade de segurança) recaem sobre amigos e relacionamentos.
Ora... se os relacionamentos são cada dia mais tão somente sexuais, naturalmente as relações de amizade entre os gays são mais trabalhadas e ganham mais foco (isso caso não se tornem também sexuais), quando a intensão é suprir parte dessa necessidade.
Mas isso acontece apenas com os que estão longe de suas famílias?
Qual a porcentagem dos gays que têm o diálogo aberto com suas famílias sobre sexo, por exemplo?
Quem se sente tranqüilo para falar de seus desejos e aventuras? Especialmente em famílias tradicionais de cidades de interior.
Os amigos são substitutos da família para os gays ou apenas têm um papel diferente?
Conversando com pessoas de idade acima de 80 anos, é regra ouvir que era proibido o assunto “sexo“ entre pais e filhos. Hoje em dia o “tabu” tem caído e o diálogo sobre o tema tem sido incentivado. Mas esse incentivo ao diálogo vale apenas para sexo heterossexual?
Adaptando o mais “cru” dos pensamentos filosóficos...
Sexo heterossexual era tabu entre pais e filhos 80 anos atrás e não é mais hoje.
Sexo gay é tabu entre pais e filhos hoje.
Logo, sexo gay não será tabu entre pais e filhos daqui 80 anos.
...é correto?
“Os brasileiros levaram X anos para os filhos poderem falar de sexo heterossexual com suas famílias, logo... levarão mais Y anos para os filhos poderem falar de sexo gay”?
Uma pesquisa realizada em 2007 mostra que a maior parte da população aponta um dos papeis da família como sendo o de cuidar de você no futuro (saúde, financeiramente e afetivamente), caso precise. Se você não pode ser totalmente transparente com a família, como esse papel pode ser cumprido?
Além disso, quando questionados sobre as perspectivas de relacionamentos, a visão de “felizes para sempre” e “até que a morte os separe” não é uma vertente muito presente entre os gays. Sendo assim, a falta de perspectivas de apoio familiar e de relacionamentos duradouros fazem os gays colocarem mais peso no “prato” quando o que está na “balança” é a amizade?
Isso não seria medo da solidão? É por essa razão que os gays querem manter tantos amigos por perto?
Einsten dizia: "Se as pessoas são boas somente por causa do seu medo de punição e sua esperança por recompensa, então nós somos, de fato, uma desculpa".
Mas qual a relação humana que é totalmente despretenciosa, que não espera recompensa ou prevensão às “punições” do destino?
Por outro lado, o homem gay sofre com os preconceitos (começando com os seus proprios) desde que percebe que seus desejos são “diferentes” dos outros. Alguns levam uma vida de humilhação e exclusão durante boa parte da infância e adolecência. Isso torna o gay mais volúvel as investidas de afeto e compreensão, além do fato de que quando está rodeado por iguais, sente-se menos “minoria”, menos “diferente”, e menos “anormal” em relação ao mundo (Identificação).
Um amigo - para o gay - nunca é “mais um” amigo?
A dificuldade de descartar uma investida de “afeto’ explica também a volatilidade e dificuldade de manter relacionamentos amorosos?
Isso não faz com que a busca por relacionamentos mais profundos e quantitativos os torne (os relacionamentos) na verdade mais superficiais e menos qualitativos?
“Por que você se assusta? O que acontece para a árvore acontece também para o homem. Quanto mais deseja elevar-se para as alturas e para a luz, mais vigorosamente enterra suas raízes para baixo, para o horrendo e profundo: para o mal”. (Nietzsche)
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Mudando de assunto 1: Pelo meu sumiço peço desculpas especiais àqueles que lêem meus devaneios com assiduidade e me acompanham por aqui. Foram problemas médicos, mas estou de volta e bem.
Mudando de assunto 2: O endereço do blog mudou para http://primodointerior.blogspot.com/.
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RP