quinta-feira, 11 de junho de 2009

A PARADA que MARCHA.

Já faz muito tempo que a PARADA gay de São Paulo MARCHA de um dos CEP’s mais nobres da cidade (Avenida Paulista) para um dos mais decadentes (República). Qualquer semelhança do fato com a qualidade do evento é mera coincidência.





Ano após ano gente do mundo inteiro invade a capital paulista por conta dos eventos que divertem a cidade e a torna a capital gay do nosso planeta, culminando numa grande passeata na Avenida Paulista.
Há quem seja a favor, apóie, goste e faça questão de participar do evento, e há aqueles que são radicalmente contra alegando que o evento é um grande carnaval de pegação e sexo fácil.
O que motivou este post não foi tentar defender que a PARADA GAY de São Paulo é um ato “político-social” nem um “carnaval”, afinal, na minha opinião é as duas coisa e ambos os motivos são válidos, cada um a seu modo (eu mesmo, no auge dos meus 11 ou 12 anos de idade, pintei a cara na era Collor e fui às ruas como estudante sem saber direito o que estava fazendo, mas minha presença com certeza pesou nos votos de todos aqueles que disseram sim ao impeachment).
Seja qual for a razão de cada um dos presentes (caça ou protesto), acredito que só o fato de mostrar às pessoas (principalmente governantes que fazem projetos de leis ou decretos, como o prefeito que queria tornar proibido que homossexuais habitem o município que dirige, ou o deputado que queria tornar crime o beijo público entre pessoas do mesmo sexo, que você pode ler um pouco na postagem de NINA: AQUI), que somos mais de 3.000.000 de pessoas, e que essa quantidade de votos é muito mais do que a maioria deles tiveram pra se eleger, já vale o evento. Mesmo que a mídia erradamente foque apenas em mostrar os tipos mais “performáticos” lá presentes (fato que merece outro post).

Meu motivo é outro!!!

Desde o ano retrasado as casas noturnas têm se ausentado da avenida pois a associação que promove o evento começou cobrar taxas altíssimas para permitir que as boates colocassem seus carros na avenida (este ano seria mais de R$40.000,00), alegando ser um ato “publicitário”. Isso fez com que as casas investissem em eventos que acontecem no mesmo dia e horário da “passeata”, dividindo o público, diminuindo a quantidade de pessoas no evento(principalmente as mais bonitas e endinheiradas), tirando sua visibilidade e tornando-o pior a cada ano. Lí em algum lugar (esse blog não tem fins jornalísticos pra eu precisar informar a fonte) que a renda per-capita média no ano retrasado na avenida era de R$2800,00, bem cima da média brasileira, e no ano passado de R$1700,00.

Como isso se reflete no pensamento de empresários e da indústria em geral na hora de decidir investir nesse público? Como isso se reflete no governo na hora de aprovar, propor ou votar leis que protejam o interesse da classe?

Seja qual for a razão das pessoas irem para a avenida, é a massa que promove mudanças, que abre os olhos e que nos faz ser vistos.

Se é a proporção da “passeata” que a tornou maior do mundo, se é esse título que a tornou conhecida e atrativa, e se é essa “atratividade” que faz as pessoas virem de outros estados e países, o que vai acontecer se os noticiários começarem a notificar que a Parada Gay de São Paulo perdeu público, tornou-se pequena e um festival de pessoas apenas de classes mais baixas?

Sou um profissional de marketing e não posso deixar de pensar que essa estratégia é péssima, afinal todos perdem com isso:
· A associação, que com isso está dando forças para a prefeitura expulsar o evento da paulista, como vem tentando fazer há anos.
· As casas noturnas, que se a parada deixar de ser tão atrativa deixarão de ganhar MUITO dinheiro.
· A “comunidade” que perde visibilidade e com isso a homofobia ganha espaço.

Acredito que todos estão apostando que A SEMANA DO ORGULHO GAY, com todos os seus eventos e festas, são - por si - fortes para continuar atraindo o público, seja para ir à avenida, seja para ir às festas.

Será que os “gringos” ou brasileiros menos ligados a cena gay, moradores do interior dos estados, que nos visitam (e não conhecem ninguém no Brasil que os diga onde ir) pretendem deixar de ir a avenida para ir nas festas? E o que eles dirão do nosso evento?
Vai haver discernimento do tipo “Vá para a Parada Gay de SP, no Brasil, mas não vá na Parada Gay, vá só nas festas?”


Não consigo fazer uma projeção diferente de que ver essa associação voltando atrás e unindo forças, ou o evento se arruinando.
Ano passado eu mesmo fui para a Paulista. Um festival de gente sem propósito, de má aparência (principalmente), roubos, e gente reclamando. Diferente dos anos anteriores, a quantidade de pessoas era tão menor, que podia-se movimentar normalmente por onde quisesse.
Quero dizer às casas noturnas: Criem o UNIVERSO PERFEITO em cima de 2, 3 ou 4 trios (estarei lá com certeza), mas NA avenida. No máximo, façam como fez o site “disponível.com” que montou um “camarote” no evento.

Imaginam como seria se as escolas de samba fizessem eventos paralelos ao desfile na avenida? São as escolas que fazem o evento, assim como as casas noturnas GLS TÊM que fazer parte da Parada Gay. É interessante pra todo mundo.

What a fuck you doing, after all??? Pergunto.

Sobre os organizadores penso que talvez estejam querendo que o evento vá pra um CEP mais afastado, que cause menos transtorno e tenha menos impacto na vida de todos, deixando de ser um PROTESTO tão VISÍVEL. Talvez a PARADA deva ficar mesmo PARADA, como a MARCHA pra Jesus, no Campo de Marte ou no Autódromo de Interlagos. Se tiver o mesmo comprometimento dos que a promovem e participam, tudo bem pra mim.

RP

11 comentários:

  1. Não consegui me definir o que penso a respeito da parada. Agora apenas considero algo impraticável, devido ao desconforto e o risco que ela já proporciona, fazendo com que eu e inúmeros conhecidos meus permaneçamos em nossa cidade, ou eventualmente prestigiando uma das festas do período. A tendência é forte, o futuro, incerto.

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  2. Oi RP
    Antes de tudo obrigada por citar o post do Bota Dentro aqui. Concordo com vc que mais importante que o motivo que cada um tem para comparecer à Avenida Paulista no próximo domingo, é o fato de sermos muitos e de naquele dia nos tornarmos ainda mais visíveis. Principalmente pq vivemos numa sociedade (e neste conceito incluo desde o cidadão comum até o político mais influente do País, passando ainda por empresários que dirigem negócios imensos) que ainda prefere se fazer de cega para a questão da homossexualidade.
    Nesse dia estamos mais a mostra, quase que numa vitrine. E justamente por isso, além termos a chance de mostrar que representamos milhões de votos, também ficamos mais expostos a avaliações e críticas. E aí, é claro que o comportamento de muitas pessoas (incluindo também heterossexuais que se misturam na festa) pode gerar resultados não tão positivos.
    A mídia tem força seja para construir ou para destruir. E neste dia, ela estará olhando para nós. Por isso, acredito que é bom refletirmos antes de sairmos de casa, sobre nossos motivos para ir a Parada.

    Nina Ferri

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Meu caro vim te desejar um feliz dia 12 cheio de muito amor e tudo de bom do jeito que vc merece, quer e deseja. E nós todos merecemos não é?
    Grande bju, bom feriado!
    Jay

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  5. Seu post tem muito nexo, entendo que para a economia é algo bom, e de certa forma cria visibilidade, porém o fato desagradável não é ter a parada, e sim como ela é direcionada, como eu já havia dito.

    Os propósitos estão distorcidos, e acho que finanças não são valores que estamos precisando agora.

    Não quero ser visto como o gay espalhafatoso que se veste de mulher na Paulista, que não tem filhos, e pode consumir o meu produto.


    É isso. Abraço.

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  6. Pensando...
    Não sou gay.........mas fui e até acho q vou,não propriamente na parada,mas sempre passo por perto,e escolho um café para encontrar amigos que por lá estejam.
    mas no meu caso,acho que é apenas um passeio de Domingo,onde vejo pessoas que querem protestar,aparecer ou então apenas se divertir.

    acho q não criei opinião sobre.

    na verdade ando bem sem opinião ultimanente rs

    beijos
    De

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  7. Maravilhoso post!

    É um tipo de reflexão que tenho, que se o meio gay não se une, provoca esse tipo de ação imbecil que enfraquece a parada, que a bem ou mal, é nossa maior visibilidade perante a sociedade.

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  8. Rafael

    Muito legal essa abordagem, li algo parecido na revista Época, mas nao achei a edição para dar como referencia ...

    Esse aspecto político e de luta parece que se perdeu com o tempo, agora virou festa até de familias, e maloqueiro, infelizmente !

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  9. A empresas voltada para o segmento LGBT e a Assosciação da Parada nunca se entenderam ou nunca procuraram se entender. Acho comodo para as empresas que visam apenas o lucro e não tem nenhuma militância colocar anualmente o seu carro, com a sua publicidade e não contribuir em nada com a associação que durante o ano inteiro promove eventos voltados para a educação LGBT.

    A Associação não cobra 40 mil para uma empresa ter o direito de colocar um carro na parada, mas sim 10 mil, isso foi divulgado em nota na semana passada. Agora, o que pensar de uma empresa que prefere fazer eventos paralelos no dia da Parada? São empresas que estão somente interessadas no Pink Money, não tem comprometimento algum com a militância, imaginam que a Associação da Parada só tem atividades no mês de Junho e nos demais meses fecham suas portas zerando seu custo fixo e variavel. Lamentável, mas mesmo sem o apoio das empresas que se dizem gays, a Parada foi maravilhosa.

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  10. Acabo de ler um texto interessante, que diz:

    "Não se trata de apoiar ou ser contrário ao homossexualismo, tampouco de questionar suas causas, razões ou origens, mas simplesmente de respeito às liberdades individuais, o que constitui a essência de uma sociedade democrática."

    "(...)Logo, parece que nós, brasileiros, formamos uma sociedade mais avançada em suas concepções morais que as próprias leis que nos amparam."

    Aqui: http://dorodrigues.blogspot.com/2009/06/questao-homossexual-no-brasil.html

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